sábado, 23 de fevereiro de 2008

Governador do Piauí Wellington Dias é citado em relatório da PF

IstoÉ
Diagramas feitos pela PF que mostram a participação dos citados no relatório

O Governador do Piauí, Wellington Dias, é citado nos relatórios da Polícia Federal, na participação ilícita no caso Gautama e na contratação irregular da Finatec. O relatório implica, seriamente, a participação do governador nos esquemas citados.

O empresário Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama, desembarcou em Brasília na quarta- feira 20 e foi direto para uma reunião com advogados. Ele soube que o Ministério Público Federal está prestes a apresentar a denúncia contra os 42 indiciados da Operação Navalha. Uma cópia de um relatório com um diagrama que a Divisão de Inteligência da Polícia Federal enviou ao Ministério Público e ao Superior Tribunal de Justiça, sobre irregularidades em contratos públicos com a Gautama, tem o título de “Corrupção no Ministério de Minas e Energia”, o diagrama mostra as conexões que levam a um suposto pagamento de uma propina de R$ 120 mil ao ex-ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, para que o programa Luz Para Todos, no Piauí, fosse entregue à Gautama. Além dele, um novo personagem faz parte da rede detectada pela PF: o governador do Piauí, Wellington Dias, do PT. Homem de confiança da ministra Dilma Rousseff, o nome do presidente interino da Eletrobrás, Valter Cardeal, também é mencionado no relatório.

As provas da PF são trechos de escutas telefônicas, fotografias, contradições de depoimentos e uma série de documentos apreendidos.

Um diagrama produzido pela Polícia Federal mostra com destaque o governador Wellington Dias. Dias e seu ex-vice Osmar Júnior, hoje deputado pelo PCdoB piauiense, surgem no quadro da PF simbolizados como homenzinhos verdes. É o mesmo tipo de desenho que identifica o ex-ministro Rondeau. Dias é citado 17 vezes no relatório de inteligência da PF sobre o Luz Para Todos, precedido por Rondeau, mencionado 18 vezes. “Eu lamento profundamente ver meu nome nisto”, diz o governador. “Nunca vi o Zuleido na minha vida.” Ele admite, porém, ter tido reunião no Ministério com a participação de Sérgio Sá. “Eu acho que a Gautama mergulhou na licitação apostando na tradição que havia no Brasil de ganhar reajuste no decorrer das obras”, diz o governador. “Até hoje a Gautama nos atrapalha.” De fato, na semana passada, a Gautama conseguiu liminar na Justiça impedindo que a Chesf faça obras do Luz Para Todos no Piauí.

De acordo com a seqüência investigada pela PF, os acertos no Piauí teriam começado ao meio-dia da quinta-feira 25 de janeiro de 2007, quando Rondeau foi a Teresina anunciar a liberação de R$ 1,7 bilhão em geração e transmissão de energia no Estado. “O Piauí é o primeiro Estado a receber recursos do PAC”, dizia Silas Rondeau. Nesta visita, estavam ao lado de Silas o presidente da Companhia Energética do Piauí (Cepisa), Jorge Targa, o diretor regional do Luz para Todos, José Ribamar Santana, e Valter Cardeal, da Eletrobrás. Quem intermediou todos os contatos da Gautama com o governo foi o lobista Sérgio Sá, da Engevix. Contemplada com trechos da Rodovia Norte-Sul, a Engevix continuou recebendo dinheiro do governo federal após a Operação Navalha, no ano passado. Foi Sérgio Sá, “com o intuito de obter vantagem para a organização criminosa”, diz a PF, quem intermediou contatos entre o governador Wellington, o vice Osmar Júnior, Jorge Targa, Silas e Zuleido. “O Sérgio não recebeu e nem ofereceu vantagem econômica para ninguém”, diz o advogado Irineu de Oliveira, que o defende. “Ele apenas possibilitou o relacionamento do Zuleido com o Ministério de Minas e Energia”. Estes contatos do lobista com o governador e o ministro começaram a ser feitos em 2006, após encontro com o presidente Lula, numa visita ao Estado. A partir dali, entende a PF, a quadrilha começou a discutir uma fórmula para liberar recursos mais rápido e publicar editais que não fossem barrados pelo TCU. A PF transcreve assim uma conversa gravada no dia 12 de julho de 2006: “Sérgio diz que foi tudo bem. Junto com Wellington, Osmar e Jorge, conversaram com Silas e estava tudo encaminhado na Eletrobrás com relação ao resto do dinheiro para o Luz Para Todos e conversaram bastante sobre a questão dos editais.” Em uma das escutas, gravada dia 29 de agosto de 2006, Sérgio diz que vai se encontrar com Osmar “no Palácio da Alvorada”, e combina com Zuleido Veras que retornaria a ligação após o encontro.

A denúncia da Operação Navalha está pronta há mais de seis meses. Mas na quinta- feira 21 continuava no computador da subprocuradora da República Lindôra Araújo. O procurador-geral, Antonio Fernando de Souza, já demonstrou seu desconforto com tanta demora. A subprocuradora Lindôra promete apresentar sua peça logo. “A denúncia está pronta e espero apresentá-la em uma semana”, garante.

E com relação à contratação da empresa Finatec, o governador do Piauí também aparece como um dos facilitadores da contratação irregular da referida empresa.

Assim que tomou posse, em 2003, o governador Wellington Dias (PT) contratou a fundação para a elaboração de um projeto de reforma administrativa e para a elaboração de um plano de cargos e salários do funcionalismo público. Em um único dia, 3 de abril de 2003, o governo declarou a dispensa de licitação para contratar a Finatec, aceitou o plano de trabalho, assinou o contrato e juntou os comprovantes de publicação no Diário Oficial. A rapidez, incomum no serviço público, levou o Tribunal de Contas do Estado (TCE) a abrir dez processos para investigar a contratação. A secretária de Administração do Piauí, Regina Sousa, nega as acusações. “O TCE acatou a defesa apresentada pelo governo, e as contas foram aprovadas”, afirma a secretária.

De acordo com o Ministério Público, a contabilidade da Finatec é um problema antigo. Desde 1999, as contas da fundação não são aprovadas. Em junho de 2007, depois de duas renúncias consecutivas em diretorias da entidade, os promotores resolveram investigar o que estava ocorrendo lá dentro. Primeiro, constataram a atuação em áreas sem qualquer relação com pesquisas científicas. “Encontramos planos até para a construção de um shopping center. Isso é esdrúxulo”, afirma o promotor público Ricardo Souza, responsável pela investigação. No curso da apuração, Souza deparou com contratos firmados com prefeituras e a planilha em que aparecem os registros dos valores repassados às empresas de Luís Lima. O promotor Ricardo Souza afirma que a Finatec não poderia ter subcontratado as empresas de Lima. “Causou-me espanto. Há uma recomendação expressa para que as fundações não façam subcontratações”, diz Souza. “Por que essas empresas foram escolhidas para gerir contratos milionários? Houve um claro direcionamento.”

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