sábado, 23 de fevereiro de 2008

Editorial: Espionagem industrial

As investigações até agora realizadas pela Polícia Federal (PF) são inconclusas quanto à natureza do roubo de quatro notebooks, dois díscos rígidos, dois pentes de memória, um computador, uma impressora e um gravador de DVD pertencentes à Petrobras. Não se sabe se o crime foi planejado por alguma empresa interessada em vencer futura concorrência para exploração de gás no gigantesco campo de Júpiter, na Bacia de Santos, ou resultante de ação isolada de larápio.

A primeira hipótese, contudo, é a que se revela mais plausível. A PF, a partir de quarta-feira, a elegeu como a principal linha para o desenvolvimento da atividade investigativa. Os equipamentos roubados continham informações da maior importância para o enriquecimento do acervo técnico-operacional da empresa, sobretudo no tocante à exploração de Júpiter Não houve ainda estimativa sobre as reservas na área, mas se sabe que poderão levar o Brasil à auto-suficiência em energia gasosa. Está aí cenário propício para despertar cobiça e ambições desmedidas.

É óbvio que não podem ser transpostos ao nível da opinião pública os meios adotados pela Petrobras a fim de proteger o segredo das pesquisas para identificação de províncias petrolíferas e gasíferas, assim também dos mecanismos a serem utilizados na lavra e prospecção. São atividades ligadas à segurança nacional. Mas, no caso do roubo de utensílios eletrônicos de registro cibernético, pergunta-se por que foram conduzidos em contêiner e desde a plataforma NS-21, Bacia de Santos, até o porto do Rio de Janeiro. E, daí, emmbarcado em navio carroceria de caminhão até o terminal da empresa responsável pelo transporte (a americana Halliburton) em Macaé.

Na opinião de especialistas, os dados poderiam ter sido transferidos via satélite para a sede da Petrobras no Rio de Janeiro. E apagados uma vez confirmado o recebimento. O transporte de notebooks abastecidos com registros sigilosos parece exposto a muitos riscos. Muitas pessoas sem dúvida compartilharam do manuseio dos bens, do embarque e conheciam o destinatário final, além do embarcador. Está aí porta aberta ao rompimento da confidencialidade da operação. As cautelas se impõem com maior severidade quando está em causa resguardar interesses essenciais ao desenvolvimento do país e relevantes, também, para milhares de acionistas.

É rotina da concorrência selvagem, hoje instalada nos mercados mundiais mais pujantes, maquinar ataques sobre as linhas de defesa dos grandes complexos econômicos para se apropriar de modelos tecnológicos de produção. No Brasil, empresas como a Petrobras e a Vale, para citar apenas duas das mais notórias, correm o mesmo risco. Lá fora, mobilizam-se os mais sofisticados meios para frustrar a delinqüência empresarial. Aqui, há poucas referências sobre condutas similares.

Encontrar petróleo e gás em lençol marítimo embaixo da camada de sal como no caso de Júpiter e Tupi, na Bacia de Santos, é conquista que se insere no mais alto nível da estratégia nacional. O episódio do roubo de equipamentos, sobretudo com a facilidade com que foi efetuado, põe em dúvida os procedimentos da Petrobras para se prevenir contra um dos rebentos mais espúrios do mundo globalizado: a intensificação da espionagem industrial. Ainda que, convém registrar, seja aprovada a hipótese remota de simples ladroagem à margem de interesses comerciais.

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