quarta-feira, 19 de março de 2008

Criança torturada pela mãe

A garota era mantida em cárcere privado na casa de empresária que a torturava em Goiânia.
A menina de 12 anos libertada na segunda-feira pela polícia de uma casa onde era mantida em cárcere privado e torturada, em Goiânia, encontrou hoje o pai biológico. Lourenço Rodrigues Ferreira, 33 anos, e a adolescente se abraçaram.

A menina foi encontrada na terça-feira acorrentada, amordaçada e com vários ferimentos pelo corpo, em um apartamento em um setor nobre de Goiânia, em Goiás. A autora do crime seria, segundo a polícia, a proprietária do apartamento, que criava a menina há dois anos com autorização da mãe biológica. Silvia Calabresi de Lima, 42 anos, foi presa em flagrante.


O Conselho Tutelar vai analisar psicologicamente os pais biológicos da menina, para decidir sob a custódia de quem ela ficará. Os dois são separados e vivem no interior do Estado. Eles prestaram depoimento na manhã de hoje, mas só será decidido pelo indiciamento ou não dos dois no final do inquérito.
A mulher acusada de torturar a menina, afirmou hoje, durante a transferência para a Casa de Prisão Provisória (CPP), em Aparecida de Goiânia, que a culpa foi da empregada.
Fonte: Terra


Sílvias e Vanices
SILVANA MASCAGNA
Foi minha amiga Edna quem me contou a trágica história da menina torturada pela mãe adotiva em Goiânia. Fui atrás de mais informações e acabei vendo no site da Rede Record a reportagem completa, em que policiais filmaram a libertação da garota de 12 anos.
Ela, amordaçada, tinha os pés amarrados e estava acorrentada pelos braços suspensos. Graças a uma denúncia anônima, os policiais chegaram até o apartamento da empresária da construção civil Silvia Calabrese Lima, quem adotou a menina há dois anos e a mantinha sob tortura. Silvia foi presa anteontem.
Na entrevista em que deu logo após ser libertada, a garota conta detalhes das torturas sofridas por ela. Suas mãos e pés eram freqüentemente massacrados entre portas, sua língua era apertada com alicates, seu dente da frente foi quebrado e sua pele queimada a ferro de passar roupa.
As marcas da violência são visíveis no corpo franzino da menina, que foi adotada ilegalmente depois da mãe dizer a Silvia que não tinha condições de criá-la. A tal empresária negou as acusações e, num primeiro momento, culpou a empregada, Vanice Maria Novaes, pelo crime - depois disse que ela a induzia.
A babá, por sua vez, afirmou na reportagem da TV que via o ferro queimado, mas "jamais imaginou" que fosse usado para torturar a garota. Para o delegado, porém, Vanice confessou que sabia dos maus-tratos, mas que nunca denunciou a patroa por medo.
De testemunha, a empregada passou a ser acusada de co-autora, depois de a garota afirmar que ela também a maltratava. Segundo a polícia, uma agenda encontrada na casa mostrava as tarefas domésticas a serem cumpridas pela menina para que não fosse torturada.
"Só a psiquiatria pode explicar o que é tamanha crueldade", disse a delegada encarregada de cuidar do caso. Será? Fico imaginando que Silvia pode, sim, ser sádica e que tenha adotado a garota para este fim.
Mas e Vanice? E o marido da empresária e os filhos de 20 e 21 anos? Eles participaram ou não da violência? Se não, não viam os machucados no corpo dela? Esse caso, me desculpe a delegada, não tem nada de psiquiátrico.
Está claro o abuso de força e autoridade de um grupo sobre alguém que não tinha como se defender. E isso é mais fácil de acontecer do que gostaríamos. Quando dizemos que uma pessoa é louca porque cometeu um ato terrível, estamos dizendo que um ser humano são é incapaz de cometer atrocidades.
Bobagem. Nosso único consolo como seres viventes neste planeta é saber que assim como existem Silvias e Vanices, há outros que bem poderiam ficar calados, mas resolvem abrir a boca para denunciar casos terríveis como o dessa garota.
Na reportagem da TV, a menina sorri quando diz que "agora quero ser feliz", viver ao lado dos pais e nunca mais se separar deles. Quer também uma bicicleta. Isso é tudo.

SILVANA MASCAGNA escreve no Magazine às quartas-feiras.
mascagna@otempo.com.br


Acusada de torturar menina tem histórico de maus-tratos

Karin Blikstadda Folhapress
Presa segunda-feira, 17, em Goiânia (GO) acusada de torturar uma menina de 12 anos, Sílvia Calabresi Lima, 41, possui um histórico de maus-tratos, segundo a Polícia Civil. Há seis anos, ela foi acusada de maus-tratos e castigos duros a uma criança de cinco anos que viveu com ela por aproximadamente três meses. Sílvia chegou a responder a processo.
Segundo o promotor que cuidou do caso na época, Saulo de Castro Bezerra, havia indícios de que a mulher batia na criança e que os castigos se tornavam cada vez mais severos. O laudo do IML, no entanto, não confirmou os indícios, e o processo foi arquivado em 2003. Uma denúncia anônima levou Sílvia à prisão sob a mesma acusação. A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia encontrou uma menina de 12 anos acorrentada e amordaçada em uma região nobre da capital.
Para a delegada que cuida do caso da menina de 12 anos, Adriana Accorsi, a razão para tais atos é puro sadismo. "Ela é má. Achamos que ela gostava de torturar", disse. Sílvia, contudo, não foi avaliada por psicólogos para um diagnóstico. Ontem, Sílvia negou as acusações e culpou sua empregada, Vanice Maria Novais, 23, que foi presa acusada de ser co-autora das agressões. À polícia, ela confirmou as histórias de tortura.
Ontem, o advogado tentou prorrogar o depoimento do marido de Sílvia -que pode ser indiciado por omissão- para hoje. Segundo o advogado, ele está em estado de choque e não poderia falar. Uma jovem de 20 anos, que não quis ser identificada, também disse que sofreu maus-tratos de Sílvia há quatro anos. Segundo a jovem, Sílvia dava empurrões e arremessava copos nela, mas não chegou a torturá-la. A jovem foi trabalhar como sua empregada aos 15 anos e ficou lá por um ano, sem nunca ter recebido salário. Segundo a jovem, ela era mantida presa dentro do condomínio.
A garota de 12 anos deve ficar no abrigo onde está até o juiz decidir quem ficará com a guarda. O Conselho Tutelar ouviu sua família e disse que, até o momento, não há elementos que impeçam que a mãe ou ou pai fiquem com a guarda.


Outra jovem acusa empresária de maus-tratos e tortura em GO

Jovem de 20 anos confirmou à polícia que a mesma mulher que agredia menina de 12 a torturou 6 anos atrás
Rubens Santos, GOIÂNIA
Lorena Coelho Reis, de 20 anos, denunciou ontem à Polícia Civil de Goiás que foi torturada pela empresária Sílvia Calabrese Lima, de 42 anos, presa anteontem, em Goiânia, sob acusação de maus-tratos contra a menina L., de 12 anos.

Ontem à tarde, no 5º Distrito Policial de Aparecida de Goiânia, cidade vizinha a Goiânia, Lorena relatou à delegada Carolina Paim que morou na casa da empresária quando tinha 14 anos. Durante um ano, disse, viveu dias de violência que só terminaram na festa de seus 15 anos, em 2003. "Aproveitei que todos festejavam e fugi", afirmou Lorena, em depoimento.

De acordo com a polícia, Silvia já tem ficha criminal por três casos de maus-tratos, mas não foram fornecidos detalhes.

Segundo o diretor do Instituto Médico-Legal (IML), o patologista Ademar Cândido de Souza, o exame de corpo de delito de L. constatou lesões em várias partes do corpo. Todas provocadas por material perfuro-contundente e térmicos, o que seria a causa, além dos ferimentos, de queimaduras na língua, embaixo das unhas das mãos e nas nádegas.

Quando foi libertada pela polícia, a menina L. estava acorrentada pelos pés e pelas mãos num canto da área de serviço, ao lado da escada de acesso à caixa-dágua do edifício. A empresária mora com a família em uma cobertura de mais de 200 metros quadrados. O imóvel fica no bairro Setor Marista, um dos locais que têm o metro quadrado mais caro da cidade.

A empresária e sua empregada doméstica, Vanice Maria Novais, de 23, também acusada de torturar L., foram transferidas ontem para o Centro de Prisão Provisória (CPP). Quando foram presas, as duas discutiram: "Ela mandou bater, passar pimenta na boca da menina, prender o dedo dela na porta", disse Vanice. "É tudo mentira, você fez tudo isso e agora quer me incriminar", afirmou Sílvia.

O caso chocou a cidade e até o advogado de Sílvia ameaça abandonar o caso. "Trata-se de uma causa difícil de ser patrocinada. Se os fatos forem verdadeiros, dificilmente continuarei no caso", afirmou o advogado Darlan Alves Ferreira. Ele explicou que Sílvia "avocou o direito de falar só em juízo".

Sílvia, que, segundo a polícia, havia sido menina de rua, vivia no apartamento com o marido, o engenheiro civil Marco Antônio Calabrese Lima, sua mãe adotiva - que não foi localizada - e três filhos do casal: dois deles estudantes de Engenharia Civil e um menino de 6 anos.

O marido de Sílvia deve prestar depoimento hoje. A polícia quer saber até que ponto ele sabia das sessões de tortura que aconteciam dentro de sua casa. O engenheiro já declarou que desconhecia o crime. "Ele está transtornado, disse que não sabia dos fatos", afirmou o advogado Darlan. "É aquela história do marido traído, que saiu para o futebol. Ele saía para o trabalho às 6h30 e voltava à noite", afirmou. A delegada Adriana Accorsi disse que, se ele não aparecer, vai pedir sua prisão preventiva na condição de omisso e conivente à situação criada pela mulher.

Joana Darc da Silva, mãe biológica de L., disse que esteve "muitas vezes no apartamento". "Mas nunca vi nada diferente (anormal) na menina", declarou ontem, após depoimento.

Joana Darc também revelou que a adoção foi feita "de boca", sem "papel passado" e que desejava o crescimento físico e intelectual da menina. Depois da adoção, ela disse não ter tido nenhum contato com a nova família da garota. Segundo ela, foi assim com os demais cinco filhos. "Só um vive comigo." A polícia ainda não decidiu se ela será indiciada por ter entregue a menina sem passar pelo processo de adoção.



Laudo de tortura sai na segunda-feira
O IML deve divulgar na próxima segunda-feira, 24, o laudo do exame de corpo delito da menina de 12 anos que vinha sendo torturada há meses pela mãe adotiva, a empresária Sílvia Calabrese Lima e pela empregada doméstica desta, Vanice Maria Novaes. O exame foi realizado pelos médicos-legistas Décio Marinho e Jorge Ricardo Rezende Chadud, do Instituto Médico Legal.
Os legistas, segundo o diretor do IML, Ademar Cândido de Souza, constataram a existência de lesões em várias partes do corpo da adolescente provocadas por ação contundente e térmica, ou seja, a vítima sofreu, entre outros ferimentos, queimaduras na língua, compressão das unhas e cicatrizes na região glútea.

Nenhum comentário: