segunda-feira, 24 de março de 2008

Abusos na TV - (apresentadores)

Famoso pela apresentação diária, em rede nacional, de um programa da TV Bandeirantes que faz mix de matérias sobre as mazelas da cidade de São Paulo, José Luiz Datena desancou, dia desses, seus colegas “animadores” que usam a força comunicadora da televisão para virar políticos profissionais. Com efeito, como num passe de mágica, se esforçam ao máximo para assumir a condição de candidatos de plantão a qualquer mandato eletivo que apareça pela frente. Há, todavia, uma inusitada preferência pelos cargos que manejam gordas verbas públicas.
Num ato de coragem, Datena - um crítico contumaz dos gestores públicos oriundos da classe política - confessou que sua posição de apresentador de TV não o credencia a gerir a coisa pública. Só faltou dizer que criticar é fácil; difícil é, na condição de prefeito, governador ou presidente, dar respostas às demandas da sociedade.
A carapuça levantada pelo consagrado apresentador, sem dúvida, cabe à perfeição na cabeça de centenas de "justiceiros" da TV espalhados pelo Brasil afora. Principalmente, em Mato Grosso e, mais particularmente, em Cuiabá. Na capital mato-grossense, aliás, esse estilo de fazer “TV popular” aflora com força total, sempre com o propósito velado de seduzir, ludibriar e enganar a boa-fé de milhares de cidadãos.
Lamentavelmente, o alvo principal desses “programas” são pessoas das camadas sociais de baixa renda e pouca escolaridade. São vítimas em potencial e prediletas de espertalhões, que, na maior cara de pau, se apresentam como "jornalistas" críticos. Pior, se esforçam para se revelar aos olhos dos incautos como portadores de soluções para problemas e dificuldades que apontam na gestão da Capital, do Estado, do Brasil.
Logo, vão ensinar como se pode mudar o mundo.
A ganância por cargos na máquina pública leva alguns desses elementos a assumirem a condição de donos absolutos da verdade; misturam o trabalho profissional - que precisa ser desempenhado com isenção para ser respeitado - com a atividade política, partidária e eleitoral. E, nessa ânsia desenfreada pelo Poder, à revelia de princípios éticos, elegem "adversários", possuidores ou não de mandatos.
A mídia televisiva é farta nesse tipo palanque eleitoral extemporâneo, obviamente, pelo poder de penetrar nos lares, sem pedir licença. A falta de pudor impede qualquer preocupação com o que o sensacionalismo barato possa causar às famílias. Ademais, provoca uma concorrência desleal com os demais candidatos, que, sem a força da TV ou de qualquer outro veículo, não têm o princípio da igualdade de condições.
Em boa hora, o Ministério Público Eleitoral deu um basta nessa farra, ao intimar os telecandidatos (casos dos deputados Walter Rabello, Maksuês Leite e Sérgio Ricardo) a evitarem qualquer forma de manifestação (principalmente, as famosas doações) de cunho político-eleitoreiro. Ricardo (PR) desistiu da candidatura e mantém a tônica clientelista do seu programa na TV Band; Maksuês (PP) postula a Prefeitura de Várzea Grande, mas respeitou a determinação do TRE e enfatiza o caráter policialesco do seu programa na TV Rondon; Rabello, ao que parece, faz de conta que não é com ele.
De fato, em vez de respeitar a Lei e dar exemplo aos seus fanáticos seguidores, o apresentador da TV Cidade (SBT) optou por dar o troco, ao transformar o Ministério Público (estadual e federal) em "saco de pancada". De fato, diariamente, ele bate duro no MP. Suspeita-se que seu objetivo seja pretender desqualificar as denúncias que pesam contra ele, entre as quais, a de crime de infidelidade partidária.
O mínimo que se pode dizer é que faltam ética e responsabilidade jornalística da parte do deputado-apresentador-cantor-ator do PP. A Justiça não pode ser tratada com escárnio. Há uma clara demonstração de despreparo para o exercício de cargo público. Como se não bastasse o fato de o deputado Rabello, por si só, se revelar extremamente incompetente para exercer a profissão de “jornalista”.
Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá.
af-souza1957@uol.com.br
asouza80@hotmail.com

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