quarta-feira, 18 de junho de 2008

Família de garota presa com homens em Abaetetuba (PA) reclama de negligência

Família de garota presa com homens em Abaetetuba (PA) reclama de negligência
Folha Cotidiano
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
da Agência Folha, em Belém
KÁTIA BRASIL
da Agência Folha, em Manaus

Mais de sete meses após uma adolescente de 15 anos ter ficado presa com cerca de 20 homens por quase um mês em uma cela de Abaetetuba (137 km de Belém), cinco de seus parentes, protegidos por um programa de proteção a testemunhas, afirmam estar abandonados pelo governo paraense.

Morando fora do Pará, em local sigiloso, eles dizem que estão desempregados, em uma casa sem camas e ganhando R$ 200 por mês para alimentação, remédios e vestuário --o que daria, em média, R$ 40 para cada um.

O caso da jovem foi revelado em novembro do ano passado. Ela havia sido presa em flagrante por furto, e depois foi estuprada e espancada várias vezes pelos homens da cela.

Seus parentes foram inseridos no programa de proteção, o Provita, pois houve rumores de ameaças após a exposição do caso, de repercussão nacional.

Os benefícios para quem participa do programa, uma parceria entre governos estaduais e federal, são estabelecidos caso a caso. No Pará, quem faz o repasse do dinheiro público é uma ONG.

O tio da jovem, que procurou a reportagem para relatar a situação, disse que um dos familiares pediu a ele ajuda financeira, devido às dificuldades. "No início eles [governo] estavam dando uns R$ 400, mas agora baixou para R$ 200."

Os parentes disseram ao tio que, quando foram visitados pela governadora Ana Júlia Carepa (PT), ela prometera emprego e condições dignas de sobrevivência.

Outro lado

A Secretaria da Justiça do Pará negou as afirmações. Luiz Romano, diretor de Cidadania e Direitos Humanos da pasta, citou relatórios que indicam gastos médios de R$ 1.050 por mês com os cinco. No início do programa, afirmou, o governo chegou a dar mais de R$ 5.000 para o grupo.

Para ele, as reclamações têm que ser analisadas à luz da "dinâmica conflitiva" da família e da "grande expectativa" gerada pela tutela estatal.

"No início, eles estavam em uma casa de veraneio, com piscina, faziam churrasco, tomavam cerveja. Agora, estão em um local mais simples, mas que atende perfeitamente a necessidade deles", afirmou.

A moradia atual, afirmou Romano, tem cozinha, sala e dois quartos com camas, além de duas televisões.

Para o diretor, que é psicólogo, a transformação na vida das pessoas que estão protegidas leva a perdas afetivas, que podem gerar insatisfação e uma vontade de reparação.

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