terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Internet via TV: Uma opinião que não vale nada.

Internet via TV: Uma opinião que não vale nada.

Glaucio Binder

Ninguém discute o crescimento da importância da Internet e as mudanças que ela gerou na nossa vida.

Isto é tão indiscutível que ninguém questiona a comunicação que dá destaque ao endereço eletrônico do anunciante, mesmo sabedores que somos da estranheza que ele deve gerar nas "velhinhas de Taubaté". (fico sempre imaginando o que determinadas camadas da população pensam quando ouvem ou vêem mensagens com dabliu, dabliu, dabliu, ponto, fulano de tal, arrouba, sicrano de tal, ponto com, ponto be erre).

Realmente este é um caminho sem volta. Atravessamos o rio, destruímos as pontes e agora sobrevive quem aprender a andar do outro lado.

Daí já somos tantos milhões de usuários da Rede. E poderemos ser muito mais ainda.

Mas, sabemos, que uma parcela significativa destes usuários, são usuários em ambiente de trabalho. Isto é, um grande número de internautas, só o consegue ser com o equipamento do escritório ou com o acesso que têm no escritório.

Isto é, o número de usuários de internet que acessam à noite deve ser menor do que o número de usuários do horário comercial. Talvez exista uma publicação que confirme este sentimento. Ou não, também não importa.

A questão indiscutível é, o número de internautas que vêem TV à noite e acessam à Internet ao mesmo tempo é bem menor do que qualquer outro número. E, sejamos sinceros, esta turma (a da TV e Internet ao mesmo tempo) deve ter um perfil bem específico, com características próprias (não deve ser exatamente um normal um cara que faz estas duas coisas ao mesmo tempo - ou pelo menos não é representativo do universo da população brasileira).

Partindo desta premissa, afirmo, pesquisas de opinião deflagradas pela TV, para serem respondidas pela Internet imediatamente, não representam nada.

Se assim fossem, o provável meio campo da seleção serio o do Grêmio, pois lembro bem de um jogo da eliminatória em que a Globo perguntou no ar - para responder via Internet - qual o meio campo ideal para a seleção e a resposta incluía o tal de Tinga e o restante do meio de campo do time gaúcho. Não por um acaso, o jogo era em Porto Alegre. Graças a Deus o Felipão não levou a sério (não que o Felipão seja o tipo de cara que preste atenção para opinião alheia).

Mas a população não sabe disto. E muito menos as "Velhinhas de Taubaté". E quando a voz da Globo (que é quase a voz de Deus, do Deus brasileiro, é claro) diz, X por cento dos internautas pensam isto, ou Y por cento preferem aquilo, o telespectador médio interpreta como a opinião da população, e isto acaba interferindo na sua própria opinião sobre as coisas que estão sendo questionadas.

Isto é uma forma muito leviana de fazer pesquisas. Primeiro porque internauta não é população e, indo mais fundo ainda, internauta que vê televisão e acessa computador ao mesmo tempo não é nem representativo do universo total dos internautas.

Para ser sincero, nem sei se o número absoluto de respostas é significativo, já que as respostas acabam sempre aparecendo em proporções, o que tira da Emissora o risco de pagar o mico de dizer que "10 pessoas acharam isto" ou "dois acharam aquilo outro". Não duvido muito que algumas perguntas, de interesse discutível, gerem um nível de respostas insignificante.

Isto sem falar que a Internet possibilita respostas tendenciosas, já que determinados grupos, interessados em determinadas respostas podem se mobilizar melhor.

É bem verdade que a Emissora não tem posto no ar questões muito sérias para serem respondidas desta forma. Mas, não deixa de ser um treinamento e, eventualmente, num descuido editorial, pode ir para o ar alguma questão mais séria, com um resultado distorcido, afetando significativamente a opinião da população.

Eu não sei qual o órgão, se os reguladores de comunicação, ou se a ABIPEME (Associação de Pesquisa de Mercado) deveria se pronunciar sobre isto. Mas alguma regra deveria ser estabelecida. A minha sugestão é de que sempre venham os números absolutos, pelo menos, e que a Emissora tenha o cuidado de esclarecer - para as "Velhinhas de Taubaté" - que estas respostas não representam a opinião da população.

Já vivemos uma época em que as opiniões respaldadas mudam constantemente. Na medicina, por exemplo, hora ouvimos que determinada substância faz mal, hora que faz bem e fica sempre difícil de saber qual o melhor caminho. Não precisamos de mais esta confusão de informação.

Se não vier qualquer regulamentação, Dona Rede Globo, pense nisto. A sua responsabilidade diante da população é muito grande.
Fonte:
http://www.umacoisaeoutra.com.br/marketing/internetv.htm

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