Revista mexicana gera polêmica nos EUA sobre racismo
José Baig
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Memín Pinguín é uma revista em quadrinhos popular no México |
A cadeia de lojas Wal-Mart, a maior dos Estados Unidos, decidiu retirar de venda a revista em quadrinhos Memín Pinguín - uma das mais populares do México - depois que uma cliente se queixou de que a publicação é "racista".
Memín é um menino negro que vive em um bairro pobre da Cidade do México, tem lábios muito grossos, olhos e orelhas grandes. Ele vende jornais e engraxa sapatos, mas também vai à escola.
Ele vive com a mãe, o único outro personagem negro da história.
A cliente que se queixou formalmente aos diretores da Wal-Mart, Shawnedria McGinty, também é negra e disse que a caricatura é um insulto. Ela disse que ao abrir a revista se perguntou se o desenho mostrava um menino ou um macaco.
McGinty recebeu o apoio do militante afro-americano Quannel X, que disse em um discurso que os desenhos – "a mãe com lábios grandes e a pele escura, como se fosse um gorila, e ele (Memín), como um macaquinho" – eram como uma bofetada nos negros dos Estados Unidos.
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Esta edição levou a especulações sobre sua ligação com as eleições nos EUA |
A polêmica aumentou ainda mais porque a edição da revista que a Wal-Mart oferecia tinha o título Memín para presidente, algo que muitos interpretaram como uma alusão à participação de um candidato negro na atual corrida presidencial americana.
Muitos viram nesta revista uma alusão às eleições americanas. O negro Barak Obama é negro e é pré-candidato à sucessão do presidente George W. Bush.
'Ignorância'
A revista em quadrinhos é conhecida no México desde 1940, quando apareceu pela primeira vez. Ao longo dos anos vem sendo uma das mais populares entre as crianças.
A empresa que edita a revista nega que ela tenha conteúdo racista.
"Tomaram esta história como uma questão discriminatória, quando na verdade não é", disse à BBC Mundo Manelick de la Parra, presidente da editora Vid.
Segundo ele, se trata "da história de um negrinho que se destaca e se impõe em uma sociedade discriminatória e sempre ganha. Isto é o que torna Memín tão especial", explicou.
De la Parra disse que Memín para presidente faz referência às eleições presidenciais mexicanas de 2006, e que foi nesse momento que ela foi às bancas no México.
O empresário reclama que este incidente só vai aprofundar as diferenças entre as comunidades mexicanas e afro-americanas, e atribui a queixa e a decisão da Wal-Mart à ignorância.
"E com a ignorância vêm repressão e falta de liberdade", afirmou.
A editora diz que a decisão da Wal-Mart não chega a prejudicar seu desempenho financeiro. Na verdade, a editora seria beneficiada, segundo o presidente da empresa, com o que ele considera uma "publicidade maravilhosa para aqueles que sabem que Memín Pinguín não é racista".
Choque cultural
A reação provocada por Memín pode ter fundos culturais que mostram as diferenças entre Estados Unidos e México.
"A figura de Memín não se traduziu muito bem na cultura americana", disse Raúl Ramos, do Departamento de Estudos México-americanos, da Universidade de Houston, no Estado americano do Texas.
Ramos explica que as falhas de tradução se aplicam também às imagens "porque a sensibilidade ante os temas afro-americanos são diferentes no México, onde não há uma grande comunidade negra, e nos Estados Unidos, onde há um histórico de ícones com conotação racista, como Tia Jemima (imagem de uma marca de panquecas)".
O incidente com Memín Pinguín é para Ramos um exemplo do que acontece quando duas culturas se encontram.
"Isto é resultado da globalização e das migrações de mexicanos para os Estados Unidos e é inevitável. Estas coisas vão continuar acontecendo", disse Ramos.
Mesmo que a comunidade hispânica e a afro-americana tenham lutado juntas em frentes contra o racismo e a exclusão social, "também há diferenças culturais e de linguagem que são muito difíceis de superar".
Ramos espera que o incidente sirva para mostrar que estas diferenças existem e para que as comunidades envolvidas façam um esforço para se entenderem melhor.
Outras
Lembrando as palavras do presidente do México, Vicente Fox, que disse em 2005 que os imigrantes ilegais nos EUA estão dispostos a se empregar em trabalhos que "nem sequer os negros querem".
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